O café do Sr. António

Isto de ter um café tem muito que se lhe diga, são tantas as personagens que por lá passam, tantas as historias que se ouvem, tantas as cusquices das vizinhas que dava para escrever um livro. Em 20 anos de existência já passaram pelo "café do Sr. António" umas quantas dezenas de personagens dignas de filmes com historias e peripécias que fariam as delicias de qualquer argumentista que ambicione um Óscar. Confesso que por mais que me irrite o facto de a vida das pessoas da rua ser um livro aberto para as Sr.ªs reformadas que passam o dia nas janelas a prestar atenção a todos os passos que a vizinhança dá, tem a sua piada vê-las na sua reunião diária, por volta da hora do lanche, partilharem as descobertas do dia numa mesa do café. É impressionante como senhoras que não se lembram onde deixaram a bengala se conseguem lembrar com precisão os traços físicos do homem que entrou na casa da vizinha e os minutos exactos que lá permaneceu, da historia que ouviram na mercearia e associaram à historia que foi contada na farmácia e juntando isto com o que ouviram no café conseguem, juntando todas as peças do enigma tal Sherlock Holmes, descobrir onde a mulher do taxista andou nos últimos dias. É verdade, não sei como as mentes brilhantes de Hollywood nunca se lembraram de passar uns dias numa mesa de um café familiar algures em Portugal, de certeza que teriam material para inúmeros filmes merecedores de destronar, quem sabe até, o Titanic.